terça-feira, 12 de junho de 2012

A câmera oculta e a prática do jornalismo


O Brasil passou a acompanhar, a partir do dia 14 de maio de 2005, um dos maiores escândalos políticos.  A revista Veja publicou, neste dia, uma reportagem denunciando Antônio Marinho, funcionário dos Correios,  responsável por cobrar propina de empresários. Marinho ocupava um cargo indicado pelo ex-deputado Roberto Jefferson e foi flagrado por uma câmera oculta recebendo R$ 3 mil de possíveis interessados em vender licitações estatais.
Esse não foi o primeiro caso de corrupção nem foi o último, mas um ponto chave que vem se repetindo, assim como os casos de corrupção, é a utilização de câmeras ocultas na prática do jornalismo. É comum um repórter usar de falsa identidade para conseguir as informações que precisa e, ainda, fazer o uso de câmeras escondidas. Só esquecem de um detalhe: jornalista não é policial.
Outro caso polêmico é o do jornalista da Rede Globo de Televisão, Tim Lopes. No dia 02 de junho de 2002, munido de uma microcâmera escondida, ele subiu a favela Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Seu objetivo era gravar o baile funk organizado por traficantes de drogas. Tim havia recebido denúncias de alguns moradores, que afirmavam a participação de menores nesse evento e a exploração sexual destes, além da venda de drogas. O jornalista, ao ser descoberto, foi morto por criminosos do Comando Vermelho. Tim extrapolou os limites da investigação, arriscou a vida e pagou o preço por não ter tido o cuidado de informar à justiça o que pretendia fazer, para receber o amparo dos Poderes Executivo e Judiciário.
Diferentemente do jornalismo estadunidense, que possui uma equipe encarregada de pesquisar documentos, buscar entrevistas e fontes e, com o resultado da investigação, acionar as autoridades e, só a partir de então, ligar a câmera, o jornalismo brasileiro utiliza meios ilícitos para buscar a “verdade”, cometendo um erro por cima do outro para tentar mostrar uma prática ilegal de outrem, utilizando a máxima de o fim justificar os meios como lema.
Quando se trata de casos de corrupção política, tudo depende do meio de comunicação que o jornalista trabalha, de suas reais intenções. A partir disso, o risco maior é que o jornalista sinta-se acima da ética profissional e busque a todo custo as “provas”, fazendo o uso das câmeras ocultas. A discussão é complexa, pois sempre vai estar ligada às intenções de quem utiliza as câmeras. Quem poderá questionar isto?

Daiane Meire e Marília Macedo

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